domingo, 1 de junho de 2008

Eitcha, que noite foi essa?



O relato que segue a noite aconteceu tal e qual escrito. Na época morava na Jova Rural, periferia da periferia de São Paulo, o que talvez explique em parte a estranheza da situação.


Essa noite... Carai, eitcha noite comprida... Ninguém vai acreditar, mas eu vou contar mesmo assim. Primeiro foram uns moleques jogando bola na rua. Puta barulheira. Chutando forte nos portões, inclusive no da minha casa. Isso em plena uma da manhã. Periferia é periferia, né não? Mas alguns vizinhos reclamaram e eles acabaram desistindo da idéia. Depois uma cantoria vindo de alguma igreja aqui perto. E então começaram as sessões de descarrego, exorcismo, sei lá o nome. Aquela onda de sai satanás, sai capeta desse corpo que não te pertence. Ô diabada burra que inventa de entrar bem em corpo de crente. Isso tudo rolando no último volume sabe que hora da madruga? Lá pelas três e tanta. Ninguém merece. Fui dar uma mijadinha rápida e rasteira quando percebo um barulho no corredor. Algo se rastejando, tentando se esconder no escuro. Um rato? Peguei o pau, o que guardo pra essas ocasiões logicamente e não o que iria usar no banheiro e fui no maior cagaço na captura da coisa. Não podia ser rato, muito grande. E isso era o estranho, muito grande pra ser até mesmo um gato, mas muito pequeno pra ser um ladrão. Cheguei perto do dito e pra minha surpresa dei de cara com um pobre diabo. Isso mesmo, no sentido literal da coisa, um demônio menor todo escangalhado de porrada, cheio de hematomas, escoriações, galos. Nunca tinha visto uma entidade demoníaca pessoalmente, mas não havia dúvida, era mesmo um encosto. O desgraçado me falou quase sem fôlego:
- Desculpe-me a invasão em vossa casa, mas não consigo voltar pra minha...
- Pro inferno?
-Isso. Já baixei por engano em umas três igrejas só essa noite e em todas elas foi a mesma onda. Não agüento mais tomar pancada. Não nasci pra ser esparro. Deixa-me só descansar um pouquinho aqui. Assim que tiver força eu me retiro...
Sempre me disseram pra não confiar no diabo, mas o que eu poderia fazer?
- Tá vendo isso aqui? Isso é um Chico Doce. Um pau pra bater em cara folgado.
Ele deu uma tremida. Nunca desce um diabo aqui, quando rola tinha que ser um tão bundão?
- Bom, se você se comportar não vou precisar usar isso. E nem pensa em possessão aqui que é perda de tempo. Acredito e não acredito em nada. Sou ateu convicto, mas acendo vela em igreja sempre que preciso. Se você entrar vai ficar tão perdido, mas tão perdido, que eu nem te conto.
-Tranqüilo... Chega de possessões por hoje. Só preciso descansar. Recuperar minhas forças pra voltar pro inferno.
-Bom, você pode usar aquele quarto ali do fundo.
E indiquei o quarto que seria minha sala de música e hoje é praticamente o quarto de hóspedes, ora da Thais, ora do Jaum Paulo.
Dei a passadinha básica no banheiro e voltei a deitar.
Quando eu estava indo para o quarto ele tentou me dizer que estava me devendo uma, mas eu expliquei que não. Melhor não ter um demônio, mesmo que um menor, devendo favor pra gente né?
De manhã o dito já tinha se mandado.

4 comentários:

Thaís disse...

E você, Alan Livan, nem pra deixar os flyers do Dona Bandalha para que o coisa ruim fizesse uma divulgaçãozinha básica no inferno...garanto que pra isso ele não ia pedir a sua alma.

Anônimo disse...

Não sei se é certo brincar com esse tipo de coisa...
Se bem que não sei se você estava brincando ou falando sério...
Vilma

Thaís disse...

vilmaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

as duas coisas, mulher. Com o diabo as coisas ficam nessa ambigüidade.

Saravá!

Minhápica disse...

hahahahaha
Muito boa, só por isso vou ler o blog inteiro...
huahuahuahuahuahuauhuha