terça-feira, 15 de julho de 2008
Aquele abraço de Eduardo Galeano
Eduardo Galeano é um dos meus escritores preferidos. Fico imaginando como é o Uruguai, sua terra natal, pois tão pouco nos chega desse país que é tão perto.
Mas graças aos deuses, nos chega os textos desse escritor, libertário e combatente. Escritor entre outros livros do clássico "As veias abertas da América Latina".
Um livro dele maravilhoso é "O livro dos abraços" em que ele manda idéias vigorosas, poéticas, lirícas e contudentes em textos curtos. Para serem recebidos aos poucos.
Abaixo publico dois deles, e quando for possível, mando mais alguns abraços
A desmemória/1
Estou lendo um romance de Lousie Erdrich.
A certa altura, um bisavô encontra seu bisneto.
O Bisavô está completamente lelé (seus pensamentos têm a cor da água)e sorri com o mesmo beatífico sorriso de seu bisneto recém-nascido. O bisavô é feliz porque perdeu a memória que tinha. O bisneto é feliz porque não tem, ainda, nenhuma memória.
Eis aqui, penso, a felicidade perfeita. Não quero.
A desmemória/2
O medo seca a boca, molha as mãos e mutila. O medo de saber nos condena a ignorância; o medo de fazer nos reduz a impotência. A ditadura militar, medo de escutar, medo de dizer, nos converteu em surdos e mudos. Agora a democracia, que tem medo de recordar, nos adoece de amnésia; mas não necessita ser Sigmund Freud para saber que não existe tapete que possa ocultar a sujeira da memória.
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