quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Roube este filme

Grupo britânico pró-downloads ilegais lança segunda parte de documentário que deve ser "roubado" pela internet e declara guerra contra indústria
O britânico Jamie King, 33, diretor dos dois "Steal This Film'

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL (DEVIDAMENTE ROUBADA DE ALGUM JORNAL)

"Nós reconhecemos e sabemos que nunca vamos parar a pirataria, nunca. Temos que tentar fazê-la o mais difícil possível." Vinda de quem vem -do presidente da Motion Picture Association of America (MPAA), que reúne os estúdios de cinema dos EUA-, a frase é uma rara admissão de derrota.
Ela está em "Steal This Film 2", documentário britânico pró-downloads e antidireitos autorais lançado no fim do mês passado na internet, para ser baixado gratuitamente -ou "roubado" diretamente do site www.stealthisfilm.com como sugere seu título (roube este filme, em inglês).
Produzido por um grupo que se denomina Liga dos Nobres Pares (League of Noble Peers, em referência ao sistema "peer-to-peer", ou P2P, de troca de arquivos on-line entre usuários), o filme é um panfleto a favor da atividade mais polêmica a derivar da internet: o download de filmes, músicas, livros e outras propriedades intelectuais sem pagamento de direitos autorais -aquilo que a MPAA define como "pirataria".
Ele é dirigido pelo britânico Jamie King, 33, Ph.D em filosofia e cineasta amador, que também dirigiu a primeira parte.
"Muita gente acredita que essa mudança na comunicação é temporária, pode ser parada pela indústria do entretenimento, que pode nos impedir de trocar arquivos, de pensar dessa nova maneira. Queríamos fazer um filme que encerrasse essa discussão, que mostrasse que essa revolução não vai ser revertida", disse King à Folha, por telefone.
"Uma vez que isso for entendido pelas pessoas, elas podem começar a pensar criativamente sobre o que virá a seguir. Só quando você acredita que a velha ordem vai acabar é que começa a pensar o que fará a seguir, porque acredita que o futuro não está escrito."

A revolução será baixada
King registrou seus filmes formalmente (com copyright) justamente para praticar o que prega: com direitos registrados, o download da obra sem consentimento se torna ilegal.
"É um paradoxo deliberado. O filme tem copyright em nosso nome, então quem baixa está efetivamente roubando, mas é uma piada, porque isso é exatamente o que queremos."
"Steal This Film 2" reúne diversos entrevistados para defender a tese de que o modelo de entretenimento que envolve direitos autorais está falido e será totalmente derrubado em breve, pela mistura de desenvolvimento tecnológico e de usuários que já crescem acostumados a não pagar por músicas e filmes, por exemplo.
O diretor é bastante inflamado na defesa desse ponto de vista. "A história não se move porque advogados negociam contratos com outros advogados, ela se move porque as pessoas a empurram à frente com ações ousadas e, gradualmente, o discurso a alcança."
A posição radical deriva do estado de guerra declarado pela indústria do entretenimento, que reagiu com ferocidade sem precedentes aos downloads, criminalizando a atividade e processando usuários aos milhares, mandando vários para a cadeia, inclusive.
"Eles estão tentando extrair todo o dinheiro que puderem de seus produtos antes de esse modelo de negócio desmoronar. Eles sabem que o tempo é curto, então tentam aterrorizar as pessoas para retardar a mudança o máximo possível."

Pague se quiser
Entre os novos modelos de negócio que já vêm sendo testados, King é partidário do "pague o quanto quiser", que ganhou notoriedade depois que a banda Radiohead lançou seu último álbum desse modo.
O primeiro "Steal This Film", lançado em agosto de 2006, que foi autofinanciado e custou cerca de 3.000 libras (ou R$ 10 mil), já pedia doações (opcionais) de US$ 1 a cada usuário, mas teve arrecadação irrisória.
O segundo custou 23 mil libras (cerca de R$ 79 mil), sendo que 87% do orçamento foram financiados pelo Britdoc (fundação britânica de documentários), e já arrecadou o equivalente a R$ 17 mil -foram 150 mil downloads apenas nos quatro primeiros dias.

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