quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Masimo Trofisi, o incapaz

Houve uma vez um homem que se chamava Masimo Trofisi. Se há, não sei pois o homem não dá um sinal de vida faz algum tempo. Ele é do tipo que fica da linha pra baixo que chamamos de homem médio. É um parasita. Vive com a mamãe em um cubículo, tem um emprego ridículo mas, ao contrário do homem médio que sorri, assovia melodias da canção do dia e diz todos os "boas tardes" necessários à sobrevivência do homem médio, ele não se preocupa com isso. Ele quer deixar em evidência que é um fraco de primeira grandeza.

Acho melhor que ele se apresente:



A VIDA CONTEMPORÂNEA EM PÍLULAS – MODOS DE USAR
Por Masimo Trofisi

Das Incapacidades – Apresentação


Não sou um exemplo maior em roubar doces da mão de crianças.

Meu nascimento foi um notório fracasso porque sobrevivi às palmadas doutor Fritz na bunda. Ao que tudo indica, morrerei sem choro de parentes, sem flores e homenagens póstumas. Para as pessoas do meu convívio, aquelas que conheço enquanto fazemos a milésima pausa para o café perto do fim do expediente, nascer, abrir os olhos e chorar com as palmadas do doutor Fritz são exercícios simples. No meu caso, as minhas incapacidades vão além de um embaraço ao tentar manusear os pauzinhos no restaurante japonês. Acredito que minha total inabilidade para coisas e pessoas tenha adquirido proporções nunca antes vistas e caminha para o terreno das patologias. Não começarei fazendo um histórico a partir da minha infância – que se fodam as psicologias e possíveis explicações. Hoje, nem os museus vivem mais de passado. O tempo presente é o que realmente me interessa.

Tenho incapacidades fisiológicas, sociais e outras inomináveis. Deixo essa tarefa aos capazes leitores para nomear o que julgo ser inominável. Se é que há leitores. Comecemos então a falar de cada incapacidade em forma de pílulas a serem consumidas sempre antes do café da manhã (para começar bem o dia) ou, se preferirem, em fragmentos para serem lidos no ônibus enquanto o ponto não chega e a vida se congestiona.



Da incapacidade em inter-relacionar-se

Devo ter visto, de relance, em alguma matéria de revista, outdoor ou na boca de alguma celebridade instantânea metida a inteligente que o inferno são os outros. Desconhecendo a verdadeira autoria da frase (pois sou um ignorante confesso) e, tirada de todo os seu contexto original, digo que, sim, o inferno são os outros.

Fujo, com todas as minhas forças que restaram da meia-idade (idade do Lobo a porra), dos simpáticos vizinhos que me cercam no prédio, de seus cachorros, tartarugas, crianças a tirar catota do nariz. Fujo.

O elevador, aquele espaço de X metros quadrados é meu, me pertencem no trajeto do térreo para o 17º andar. De que valem o bom dia dado sem vontade e os minutos perdidos a olhar o teto, o chão e a barata subindo nas pernas da velha do 73? Certo dia, feito animal, mijei elevador de onde moro. Glorioso e soberano sobre o meu terreno recém-conquistado. E vitorioso, ao saber que meu crime fora perfeito: não houve testemunhas. Provavelmente o moleque do 132 deve ter tomado injustamente uma palmadas da mãe severa.

A mesma sensação me acomete com o elevador de onde trabalho. Às vezes, sem a suspeita do chefe, faço passeios nos horários em que sei que há pouco movimento. Só não ouso mijar. Claro, há câmeras me sorrindo por todos os lados e o risco em perder o emprego também.

Reivindico o direito em ter o elevador a minha inteira disposição, sem a presença de outros. Pois se o inferno são os outros que eu curta as chamas do meu próprio inferno sozinho, na forma retangular e claustrofóbica de poucos metros quadrados que ascende e descende toda minha sordidez, rancor e egoísmo.

Um comentário:

Anônimo disse...
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