sexta-feira, 16 de maio de 2008

Jogando no Quintal



Não existe lugar mais escamoso (roubo o termo largamente usado por Alão Livão) que a tal da Rua Orobó. Mas nós, torcedores fiéis do povo do Clube de Regatas Cotoxó, nos perdemos pra nos encontrarmos nas ruas do Alto de Pinheiros. Uma aventura sem precedentes: chuva, poucos ônibus em circulação (e quem naquele maldito lugar usa ônibus?) e o medo de sermos atacados por uma gangue de playboys ensandecidos de Ovomaltine, Playstation, mesada do papai e uma caixa com 50 ovos pra serem jogados nos transeuntes (nós). Respiração ofegante, chegamos quando o relógio cravava exatamente 21h00 e a banda do Jogando já mandava ver nos primeiros acordes, anunciando que era só o começo.

Improviso é, independente da concepção de teatro que possa chamar de seu, uma ferramenta importante para preparação do ator. Na comédia, o improviso muitas vezes surge como um recurso inerente ao gênero como na Commedia Dell´Arte e outras formas populares. Não se trata do improviso como quer lá o senso comum: coisa mal acabada, feita nas coxas. Pelo contrário, o improviso requer estudo, suor, treino. O ator ganha visão de cena, permite que os erros sejam assimilados e incorporados e permite encarar o pega pra capar que o teatro exige. No caso do Jogando, o improviso é todo o cerne do espetáculo, ou seja, é usado tanto como ferramenta para treino dos atores e aparece como principal recurso.

Assim que conseguimos entrar no teatro-estádio, o clima de disputa de final do Brasileirão já estava lá. Ouso com o jargão futebolístico: o Jogando é uma caixinha de surpresas? Sim, é evidente. Para o público-torcedor e imagino que principalmente para os palhaços-atletas. Os minutos que antecedem a disputa aquecem os ânimos: caipirinha para o público, atores entrando no palco a bordo de um fusca (o que o patrocínio da Volks não faz...), hino do Clube de Regatas e o juiz explicando as regras do jogo.

Começa a partida. Esta, que é uma obra mais do que aberta, permite que os atores vacilem e o público aceita o fracasso como sucesso do palhaço. Faz parte do show. O segundo tempo revelou improvisações inspiradas com os objetos, com os times ainda mais coesos. Golaços dos times laranja e azul.

O clima é de braileirao mas a disputa é amistosa. Para a alegria de gregos e troianos, todos ganham. No melhor estilo comédia pastelão: uma tortada na cara ainda sim garante boas risadas.

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